José Eugênio Dutra Câmara iniciou sua criação de cavalos cavalos campolina, criatório Lagoa Negra em Barbacena, na região das Vertentes em Minas Gerais, em 1942.
José Eugênio, dentista graduado em 1941 aos 22 anos, filho, neto e bisneto de médicos e sem nenhuma relação com a zona rural, começou a ter gosto pelos cavalos na década de 30, através de um amigo da família, o engenheiro Paulo da Rocha Lagoa, genro de Chrispim Jacques Bias Fortes, líder politico da região e ex governador de MG. Rocha Lagoa fundou nesta época o embrião da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Campolina, denominado Consorcio Profissional dos Criadores do Cavalo Campolina, sediado em Barbacena. Ainda adolescente, José Eugenio sempre acompanhava Rocha Lagoa, reconhecido como grande hipólogo, a fim de aprender sobre cavalos, e por isso José Eugenio o considerava como seu grande mestre na eqüinocultura.
José Eugênio teve como ano base do inicio da sua criação o ano de 1942, ou seja, nove anos antes da fundação da ABCCC. Divide sua criação inicialmente em 2 linhas: De pelagem sólida, iniciada nos anos 40 e a criação de pampa iniciada em 1971. As duas linhas iriam se fundir em 1991. Na década de 50, ainda com o prefixo Barbacena - o sufixo Lagoa Negra viria a adotar em 1963, por sugestão de sua esposa Dora - teve como seu principal animal Barbacena Parlamento, campeão nacional em 1958, no Parque da Água Branca em São Paulo. Desde 1947 José Eugênio participava de exposições sendo as viagens de trem até São Paulo, memoráveis até hoje, pois fazia questão de viajar junto com seus animais, sendo a égua preta Gilda responsável pelo seu debut nas pistas das grandes exposições. Parlamento gerou a égua preta Graúna da Lagoa Negra, nascida em 1963, campeã nacional da raça em 1967 em Belo Horizonte , que acasalada com Micaela Sublime II gerou o belo cavalo Parlamento II da Lagoa Negra, nascido em 1973 e Reservado Campeão Nacional da Raça em 1980. Um dos mais disputados títulos nacionais também foi ganho por José Eugenio no ano de 1970, quando Apolo de Santa Maria sagrou-se campeão nacional da raça.
Mas foi no inicio dos anos 70, vendo de perto a beleza da pelagem pampa na raça Mangalarga Marchador, que José Eugênio saiu à procura de éguas pampas padronizadas na raça campolina para serem registradas em livro aberto. Encontrou algumas pampas e outras pretas, e entre estas pretas adquiriu uma égua na cidade de Arcos, prenha de um cavalo mangolino pampa de preto, filho de égua campolina com o Mangalarga Marchador Turista de Passa Tempo. Nasceu em 1971, deste acasalamento da égua campolina Jabuticaba da Lagoa Negra com este cavalo pampa mangolino, o ¾ campolina Netuno da Lagoa Negra, posteriormente registrado em livro aberto na ABCCC. Netuno, portanto, foi a base para a criação pampa que José Eugênio procurava. Nesta época havia alguns animais pampas na raça campolina, mas todos foram objetos de descarte pelos seus criadores já que era uma pelagem com pouca procura e com forte preconceito nas pistas.
Netuno gerou animais de marcha picada e de rara beleza. Entre eles a potra Vingança da Lagoa Negra, que foi a primeira campolina pampa premiada na pista da Gameleira em Belo Horizonte. O nome Vingança foi com a intenção, aliás alcançada, de produzir uma potra pampa que vencesse as potras de pelagem baia. Aliás, no ano de 1978, durante a 3° Convenção Nacional da Raça Campolina, o Prof. Lecy Lopes do Val, renomado hipólogo e grande amigo de José Eugênio, dissera numa palestra que a raça campolina além das 2 linhagens pilares Gás e Passa tempo, poderia ter tido uma 3°, a Lagoa Negra, caso seu criador não tivesse insistido em “brincar” de criar cavalos com seus animais coloridos. Como em 1979 a safra nascida era da letra V, o nome Vingança também foi em homenagem ao seu amigo Lecy. Ambos, quando se encontravam , riam bastante desta história.
Netuno, falecido em 1983, teve como sucessor seu filho Segredo da Lagoa Negra (1976-1991), que por sua vez gerou mais 2 garanhões usados na fazenda: Falcão da Lagoa Negra e Isto É da Lagoa Negra. Outros famosos filhos de Netuno foram Tupyara da Lagoa Negra, campeão nacional de marcha - sendo responsável pela única derrota em concurso de marcha, pelo até então imbatível Estádio do Desterro - e Arauto da Lagoa Negra, irmão fechado de Segredo.
Falcão, nascido em 1987, foi utilizado em 3 safras, e Isto É nascido em 1990, 2 vezes neto de Netuno, tornou-se o primeiro pampa campolina homozigoto da raça, tendo gerado somente produtos de pelagem pampa, independente da pelagem da mãe. Seu nome foi escolhido como um simbolismo, pois mostrava “se é pampa, é Lagoa Negra”. Falcão, antes de transferir-se para o estado do Rio de Janeiro, onde nos criatórios MM e LPD, se transformaria no “Gás Dengoso dos pampas campolina”, deixou o expressivo e belo JE da Lagoa Negra, quando José Eugênio aproveitando a segunda passagem do seu criatório na letra J, em 1991, fez uma auto homenagem dando-lhe o nome com suas iniciais.
JE representa a fusão das duas linhas de criatório – pelagem sólida e pampa – pois sua mãe, a preta Andorra da Lagoa Negra, morta quando JE tinha apenas 1 semana, era filha do Campeão Nacional da Raça/1983 Ulisses da Lagoa Negra, filho de Parlamento II, e considerado por José Eugênio o melhor animal nascido em seu criatório. JE, que foi 1° prêmio na Nacional/96, sendo o único garanhão pampa a obter tal premiação numa nacional, veio a ser condominiado com a Agropecuária Hibipeba, e deixou vasta prole na raça. Deixou como seu sucessor na Fazenda Lagoa Negra, o pampa de amarilho Tornado II da Lagoa Negra, exímio marchador, nascido em 2001 neto materno de Isto É.
Tornado II gerou Astro Rei da Lagoa Negra, que além de representar a 6º geração pampa Lagoa negra, deu inicio tambem a passagem pela 3º vez no alfabeto, fato somente conseguido pela criação Passa Tempo, já extinta. Astro Rei é o único produto campolina, na historia da ABCCC, que detém 8 cavalos no seu predigree, todos nascidos na mesma criação: Tornado II (pai), JE (avô paterno e materno) Falcão (bisavô), Isto É (bisavô), Segredo (tataravô), Ulisses (tataravô), Netuno (quintavô) e Parlamento II (quintavô). Todos da Lagoa Negra. Nem as lendárias linhagens pilares da raça Gás e Passa Tempo conseguiram este feito no registro genealógico da ABCCC. Este fato orgulha muito a Lagoa Negra, pois mostra a perseverança de um criatório.
Possivelmente 70% da raça campolina de pelagem pampa, tenha Lagoa Negra na genealogia, sendo o restante descendente de éguas pampa livro aberto.
Atualmente, além da criação de pelagem pampa tendo como garanhões titulares o pampa Astro Rei da Lagoa Negra, nascido em 2006, foi usado na produção o negro Taj Mahal da Conceição, um filho de Lanceiro da Conceição, utilizado para “refrescamento de sangue”. Taj Mahal, vitima de laminite adquirida ainda quando potro, faleceu em 2011, aos 6 anos, deixando um potro, Este É da Lagoa Negra, pampa de preto, como seu sucessor e futuro reprodutor, já representando a 7º geração de pampas Lagoa Negra.
José Eugenio e seu filho José Eugenio Filho, o Dudu, iniciaram em 2006 um projeto a longo prazo: o Lagoa Negra Amarilho. Observaram que muitos tem amarilho mas ninguém criava amarilho. Observaram também a atração que os animais louros traz nos leiloes da raça. Através do garanhão Zan Boêmio, um filho de Boêmio do Angelim em Gás Bandoleira (Gás Garbo), selecionaram algumas matrizes de pelagem alazã sobre baia, alazã e amarilha, e tem conseguido resultados exitosos. Destaque para o potro Black Tie da Lagoa Negra, nascido em 2007, filho de Zan Boêmio com Melissa da Conceição, um animal com muito futuro, pela beleza, caracterização racial e andamento muito marchado. A procura pelos louros é maior que a produção, que comprova o acerto na escolha do projeto.
A Lagoa Negra em 2011, às vésperas dose 70 anos, tem aproximadamente 20 fêmeas, algumas em transferência de embrião, sendo 10 para o “braço pampa”, com Astro Rei da Lagoa Negra, com o promissor potro Kadu da Barraca, e ainda utilizando o garanhão Vesúvio 5 Estrelas do amigo Paulo Seixas; e 10 fêmeas para o “braço louro”, com garanhão chefe Zan Boêmio, seu filho Black Tie ,e para as filhas de Zan Boêmio, a fim de fazer o F2 dos louros, está sendo utilizado Boulevard da Lagoa Negra, alazão sobre baio, filho do cavalo do momento Neruda da Chiribiribinha com a egua amarilha Maralina da Chiribiribinha, que trouxe Boulevard ao ventre, quando adquirida do Haras Chiribiribinha.
O titular da criação, José Eugênio Dutra Câmara nos deixou em 01 de outubro de 2010, aos 91 anos de idade, deixando o seu legado para seu filho, José Eugenio Filho, o Dudu. Deixou no binômio planejamento e perseverança, um rumo para toda criação. Ao planejar seu criatório para o futuro, com duas vertentes, a tradição do pampa e a inovação do amarilho mostram que a perseverança é a base para a longevidade de um criatório, e que deve ultrapassar gerações, e não somente momentos de êxito em pistas ou bons negócios momentâneos. A perseverança em criar pampas, desde uma época onde estes eram vistos com enorme discriminação, permitiu a ampla abertura do mercado do campolina pampa, e por isso esta insistência - no passado, criticada - hoje se resume na frase: ”Aquilo que parecia ser uma teimosia, mostrou ser uma enorme sabedoria !”
Fazenda Lagoa Negra
Barbacena – MG, 2011
desde 1942
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